O processo de selecionar os mais capazes é uma
conquista do estado democrático que assim se viu livre do fisiologismo e
clientelismo políticos, estruturando a meritocracia.
No aparelho de estado os concursos públicos concorrem
para qualificar os serviços e produtos prestados à população.
Todavia, selecionar quadros deve ser um processo
natural de construção da democracia e da cidadania, e não uma panacéia
confinada em si mesmo como ocorre no vestibular, processo de ingresso no ensino
superior público e privado.
Ao analisarmos o vestibular pretendemos, na realidade,
desconstruir sistemáticas perversas de seleção, mecanismos bastante comuns no
serviço público.
O processo de ingresso no ensino superior brasileiro
se tornou um paradigma que transcende o meio acadêmico e, de certa forma,
galvaniza a opinião publica nacional. Falar em vestibular tornou-se um martírio
para grande parte das famílias brasileiras - sobretudo as mais pobres que
percebem como ninguém o funil garroteador que representa este exame de seleção.
Ocorre
que o vestibular - e o que vem a seguir está mais que comprovado - não
conseguiu atingir o objetivo a que se propôs, qual seja, o de selecionar os
candidatos mais habilitados, mais capazes e preparados para ingressar na universidade.
O processo adotado para estabelecer quem frequentará uma escola superior no
país caducou.
Em
entrevista à imprensa nacional, o então reitor da Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Prof. Aloísio Teixeira, foi categórico ao afirmar que o vestibular
não é capaz de aferir a capacidade de um aluno. Na ocasião o reitor da UFRJ
elegeu como uma das metas prioritárias de sua gestão acabar com o vestibular. E
complementou afirmando que o vestibular “constitui uma barreira intransponível
para as famílias de renda menor".
Destaque-se,
portanto, que - não bastasse se constituir num instrumento ineficiente e
ineficaz para aferir o grau de conhecimento dos candidatos - o vestibular atua
ainda como uma muralha, uma barreira social, quando impede ou limita de maneira
determinante que os filhos das classes menos favorecidas alcancem um lugar na
academia.
Um
dos mais destacados políticos brasileiros trata do tema com singular
sinceridade. Professor universitário, um dos poucos a galgar o posto de reitor
de uma das mais importantes instituições de ensino superior do país, a
Universidade de Brasília, ocupou a chefia do executivo do Distrito Federal,
elegeu-se senador da República e foi ministro da educação do primeiro governo Lula
(Luis Inácio Lula da Silva). Cristovam Buarque é uma personalidade prestigiada
e com larga experiência. Não faz muito tempo, em entrevista à imprensa, questionado
se conseguiria passar em um exame vestibular respondeu com franqueza:
“possivelmente não”.
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