Comentário interno é de
que nunca se viu tamanho controle dos dados divulgados, nem mesmo durante a
ditadura militar
O clima entre técnicos do Ministério da Saúde é
de medo e perseguição desde as recentes investidas do governo federal para
mudar a metodologia de divulgação de casos e mortes causadas pelo coronavírus.
A pressão tem levado servidores a relatar quadros de ansiedade e ataques de
choro durante o trabalho. O comentário é de que nunca se viu tamanho controle
do trabalho de vigilância em saúde, um dos pilares do Ministério, nem durante a
ditadura militar. Como os militares recém-nomeados para ocupar cargos-chave na
pasta não dominam a técnica e os sistemas de compilação de dados, eles têm
obrigado os técnicos a informar qualquer movimentação nesse sentido.
A orientação é de que nenhum dado pode ser inserido na plataforma de divulgação
sem a autorização do secretário-executivo, o coronel Elcio Franco, nomeado para
o posto pelo ministro interino, Eduardo Pazuello. Franco segue ordens do
ministro-chefe da Secretaria de Governo, o general Luiz Eduardo Ramos, que
critica com frequência a atenção dada pela imprensa aos mortos da Covid-19. Foi
do ministro também a ordem para a pasta dar mais destaque aos curados da doença
nos boletins diários divulgados pelo ministério.
Desde a última sexta-feira, 5, o Ministério da Saúde passou a
atrasar a divulgação dos boletins diários com dados da epidemia. Em vez de
liberar os dados até as 19h, como vinha sendo feito desde o início da crise, os
boletins passaram a ser disponibilizados às 22h. A orientação teria partido do
presidente Jair Bolsonaro (PSL) para evitar a publicação dos números nos
telejornais noturnos e nos jornais impressos, que costumam fechar as edições
diárias antes desse horário. 'Acabou matéria no Jornal Nacional', disse
Bolsonaro ao comentar o novo horário.
Além disso, o ministério passou a divulgar apenas os números de mortes causadas
pelo coronavírus confirmadas no dia, e não mais o acumulado desde o início da
pandemia. A orientação é de que sejam calculados apenas óbitos com testes que
confirmem a infecção por Covid-19 no dia, e deixem de ser incluídos casos em
que a morte ocorreu antes do teste confirmar a doença. Devido à escassez de
testes disponíveis, na maioria das vezes, o resultado demora dias para ser
concluído.
O Congresso reagiu à atitude do Executivo e o presidente da Câmara, Rodrigo
Maia (DEM), prometeu criar uma plataforma independente de acompanhamento dos
dados. O Tribunal de Contas da União (TCU) cobrou explicações do
governo sobre o assunto.
Por Mariana Zylberkan, na Veja Online
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