Quando Elana Graham começou a vender software de cibersegurança para pequenas empresas cinco anos atrás, os negócios eram relativamente pequenos.
Agora, a demanda é
crescente, impulsionada pela rápida expansão do trabalho remoto, que deixou as
pequenas empresas vulneráveis a ataques. Ela conta que os negócios da empresa
triplicaram desde o início do ano, atingindo os maiores níveis desde a sua
fundação.
"Era uma questão
totalmente ignorada. 'Não vai acontecer comigo, sou muito pequeno.' Esta era a
mensagem dominante que eu ouvia cinco anos atrás", afirma Graham, uma das
fundadoras da empresa CYDEF, com sede no Canadá. "Mas, sim, está
acontecendo."
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Estima-se que o custo global
dos cibercrimes atinja US$ 10,5 trilhões (cerca de R$ 56 trilhões) até 2025,
segundo a empresa suíça de pesquisas em cibersegurança Cyber Ventures.
E, na trajetória atual, as
pequenas empresas sofrerão a maior parte do prejuízo. A probabilidade de que
elas sejam atacadas por cibercriminosos é três vezes maior que para as empresas
maiores, segundo concluiu a empresa de segurança em nuvem Barracuda Networks. E
os riscos dispararam durante a pandemia.
Entre 2020 e 2021, os
ciberataques contra as pequenas empresas aumentaram em mais de 150%, segundo a
RiskRecon, companhia da Mastercard que avalia o risco de cibersegurança das
empresas.
"A pandemia criou toda
uma nova série de desafios e as pequenas empresas não estavam preparadas",
afirma Mary Ellen Seale, executiva-chefe da organização sem fins lucrativos
National Cybersecurity Society, que ajuda as pequenas empresas a criar planos
de cibersegurança.
Em março de 2020, no auge da
pandemia, uma pesquisa entre pequenas empresas conduzida pelo canal de TV por
assinatura CNBC concluiu que apenas 20% delas planejaram investir em
cibersegurança. Foi quando vieram os lockdowns da covid-19 e as empresas
correram para desenvolver suas operações online.
Com o trabalho remoto, mais
aparelhos pessoais, como smartphones, tablets e laptops, tiveram acesso a
informações sensíveis das empresas. Mas os lockdowns restringiram os
orçamentos, limitando os valores que as companhias podiam gastar para
proteger-se.
Funcionários especializados
e software de cibersegurança de alto custo, muitas vezes, estavam fora do
alcance das empresas. O resultado foi o enfraquecimento da sua infraestrutura
de cibersegurança - uma situação propícia para os hackers.
"Muitos ataques agora
estão surgindo através delas, pois os criminosos sabem que as organizações
maiores fizeram um trabalho muito bom para proteger sua infraestrutura",
afirma Seale. "O elo mais fraco são as pequenas empresas. E realmente é
fácil entrar ali."
Para os candidatos a
criminosos, esses ataques apresentam baixo risco e grandes recompensas, pois
eles têm menos chance de chamar a atenção das autoridades e, muitas vezes, das
próprias empresas.
Em média, os ciberataques
somente são descobertos 200 dias depois da sua execução, segundo o professor de
ciência da computação Yoohwan Kim, da Universidade de Nevada em Las Vegas, nos
Estados Unidos. E, em muitos casos, são as reclamações dos clientes que alertam
as empresas de que existe um problema.
E, com um fornecedor
comprometido, os criminosos podem ter acesso às redes de outras organizações na
cadeia de fornecimento.
"As grandes empresas
dependem das pequenas", afirma Seale. "Elas são a força vital dos
Estados Unidos e precisamos despertá-las."
As pequenas empresas
representam mais de 99% das companhias norte-americanas e são responsáveis por
cerca de metade de todos os empregos do país. Seu papel na economia global é
fundamental.
E, para Kim, elas são o
"calcanhar de Aquiles" da economia.
"Elas podem ser
empresas pequenas, mas o que elas vendem para as grandes companhias pode ser
muito importante", explica ele. "Se forem hackeadas, [o seu produto]
não entrará na cadeia de fornecimento e tudo ficará prejudicado."
Os ciberataques podem ser
devastadores para as pequenas empresas. Além de fazerem com que seus produtos
sejam retirados da cadeia de fornecimento, eles geram despesas legais,
investigações e registros nos órgãos reguladores.
Cerca de 60% das pequenas
empresas fecham as portas em até seis meses após enfrentarem um ataque, segundo
estimativas da organização National Cybersecurity Alliance.
"O custo pode atingir
milhares de dólares", afirma Kim. "Algumas empresas simplesmente não
conseguem pagar todo esse dinheiro. Elas simplesmente não suportam."
Mas, embora as pequenas
empresas sejam as mais vulneráveis, Graham afirma que a maioria das ferramentas
de cibersegurança foi criada para as grandes companhias. Muitas vezes, é
difícil entender e instalá-las sem um funcionário especializado.
"É um enorme desafio
para as pequenas empresas, que não compreendem o que essas pessoas estão
tentando vender para elas", afirma Graham.
Segundo os especialistas,
existem medidas simples que as pequenas empresas podem tomar para aumentar sua
proteção, como criar planos de ação básicos e identificar quais e onde estão os
dados críticos.
Informar os funcionários
sobre como evitar e detectar ataques também é importante, pois a ampla maioria
dos vazamentos de dados envolve erros humanos. Ataques de cibercriminosos para
hackear e-mails comerciais foram as ameaças que causaram maiores prejuízos
durante a pandemia. Eles representaram US$ 1,8 bilhão (R$ 9,6 bilhões) em
perdas conhecidas, segundo o FBI.
Conhecidos em inglês como
spear phishing, esses golpes usam um alvo específico, ao contrário das
estratégias mais tradicionais, como o spam, que atinge grandes quantidades de
pessoas. Graham descreve a ferramenta como "a nova fronteira da atividade
criminosa" e afirma que ela se tornou o tipo mais comum de ciberataque
enfrentado pelos seus clientes.
Mas, para Seale, as empresas
não devem se desesperar. "O mais importante é informar às pequenas
empresas que não é algo irremediável. Não é uma barreira intransponível."
BBC News
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