"Interferimos, estamos interferindo e vamos continuar", afirma Yevgeny Prigozhin, que possui fortes ligações com o governo russo. Empresário já foi alvo de sanções e investigação nos EUA.
O empresário russo Yevgeny
Prigozhin, aliado do presidente Vladimir Putin e alvo de sanções do Ocidente,
admitiu nesta segunda-feira (07/11) interferência nas eleições nos Estados
Unidos – confirmando pela primeira vez uma acusação que ele vinha rejeitando
por anos.
"Senhores, nós
interferimos, estamos interferindo e vamos continuar a interferir",
afirmou Prigozhin em um comunicado divulgado por sua equipe.
"Cuidadosamente, precisamente, cirurgicamente e do jeito que fazemos, do
jeito que podemos."
O russo de 61 anos, acusado
de administrar uma "fábrica de trolls" para influenciar o resultado
de eleições em vários países ocidentais, respondia a um pedido para comentar
uma reportagem da agência Bloomberg que acusou a Rússia de interferir nas
eleições de meio de mandato nos EUA.
O comunicado foi divulgado
no último dia da campanha, na véspera da votação que influênciará decisivamente
o restante do mandato do presidente Joe Biden e que pode abrir caminho para um
retorno do ex-presidente Donald Trump à Casa Branca.
Interferência nas
presidenciais americanas
Em 2018, Prigozhin e uma
dúzia de outros cidadãos russos, além de três empresas do país, foram acusados
nos EUA de operarem uma campanha secreta de redes sociais destinada a fomentar
a discórdia e dividir a opinião pública americana antes da eleição presidencial
de 2016, que deu vitória ao republicano Trump.
Eles foram indiciados no
âmbito da investigação sobre a interferência russa no pleito, comandada pelo
ex-procurador especial Robert Mueller.
Em 2020, o Departamento de
Justiça americano decidiu rejeitar as acusações contra duas das empresas
indiciadas, Concord Management and Consulting LLC e Concord Catering, ambas de
Prigozhin, afirmando que realizar um julgamento contra réus corporativos sem
presença nos EUA e sem perspectiva de punição significativa, mesmo que
condenados, provavelmente exporia ferramentas e técnicas sensíveis de aplicação
da lei.
Em julho, o Departamento de
Estado ofereceu uma recompensa de até 10 milhões de dólares por informações
sobre a interferência russa nas eleições americanas, inclusive sobre Prigozhin
e sobre a organização russa Internet Research Agency (IRA), que as empresas
dele foram acusadas de financiar.
O governo em Washington
acredita que o Kremlin interferiu nas eleições presidenciais de 2016 por meio
da IRA, acusada de disseminar desinformação na internet e que foi apelidada de
"Exército Troll". A Rússia rejeita veementemente as alegações.
Prigozhin também vinha
negando qualquer interferência nas eleições americanas – até agora.
Essa foi a segunda grande
confissão do empresário russo nos últimos meses. Se anteriormente ele buscava
manter suas atividades longe dos holofotes, agora parece estar cada vez mais
interessado em conquistar influência política, observam analistas.
Fundador de grupo mercenário
Em setembro, Prigozhin
confirmou que fundou a organização paramilitar russa Grupo Wagner e falou
abertamente sobre seu envolvimento na guerra de Moscou contra a Ucrânia.
A presença da força
mercenária também foi relatada em zonas de conflito em locais como Síria,
Líbia, Mali e República Centro-Africana, onde foi acusada de abusos e captura
do poder estatal.
Além disso, veio à tona
recentemente um vídeo que mostra um homem parecido com Prigozhin visitando
colônias penais russas a fim de recrutar prisioneiros para lutar na Ucrânia.
Na semana passada, o Grupo
Wagner abriu um centro de negócios em São Petersburgo, que Prigozhin descreveu
como uma plataforma para aumentar as capacidades de defesa da Rússia.
No domingo, ele também
anunciou, por meio do serviço de imprensa de seu grupo de empresas Concord, a
criação de centros de treinamento para milícias nas regiões russas de Belgorod
e Kursk, que fazem fronteira com a Ucrânia.
"Um morador local
conhece seus territórios como ninguém, é capaz de lutar contra grupos de
sabotagem e reconhecimento e dar o primeiro golpe, se necessário", disse o
empresário.
Em 2014, quando eclodiram os
combates no leste da Ucrânia entre os separatistas apoiados pela Rússia e as
forças de Kiev, Prigozhin disse, por meio de seus porta-vozes, que estava
tentando "reunir um grupo [de combatentes] que iria [para lá] defender os
russos".
"Cozinheiro chefe de
Putin"
Ex-proprietário de uma
barraca de cachorro-quente, Prigozhin acabou por abrir um restaurante refinado
em São Petersburgo que atraiu o interesse de Putin. Durante seu primeiro
mandato, o líder russo levou o então presidente francês, Jacques Chirac, para
jantar num dos restaurantes de Prigozhin.
"Vladimir Putin viu
como eu construí um negócio a partir de um quiosque. Ele viu que eu não me
importo de servir aos estimados convidados porque eles são meus
convidados", afirmou Prigozhin em entrevista publicada em 2011.
Seus negócios se expandiram
significativamente. Em 2010, Putin participou da inauguração de uma fábrica de
merenda escolar de Prigozhin, construída com empréstimos generosos de um banco
estatal.
Só em Moscou, sua empresa
Concord ganhou milhões de dólares em contratos para fornecer refeições em
escolas públicas. Prigozhin também organizou serviços de catering para eventos
do Kremlin por vários anos e forneceu os mesmos serviços para as Forças Armadas
russas. A atividade rendeu ao empresário o apelido de "cozinheiro chefe de
Putin".
DW
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