Uma série de
crises sem precedentes, principalmente a pandemia de covid-19, provocou um
retrocesso de cinco anos no progresso da humanidade e potencializou uma onda
global de incerteza, afirma um relatório da ONU divulgado nesta quinta-feira
(8).
O Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (PNUD) afirma que o Índice de Desenvolvimento Humano
caiu de maneira consecutiva em dois anos, 2020 e 2021, pela primeira vez desde
sua criação há 30 anos.
Este índice mede a
expectativa de vida, o nível de educação e o parâmetro de vida dos países.
"Isto significa que
morremos mais cedo, estamos menos educados, nossas rendas estão em queda",
disse o diretor do PNUD, Achim Steiner, em entrevista à AFP.
"Apenas sob três
parâmetros, você pode ter uma ideia de por que tantas pessoas estão começando a
se sentir desesperadas, frustradas, preocupadas com o futuro", explicou.
O Índice de Desenvolvimento
avançou de forma sustentável durante anos, mas começou a cair em 2020 e
prosseguiu com a queda em 2021, "apagando as conquistas dos cinco anos
anteriores", afirma o relatório que tem o título "Tempos incertos,
vidas instáveis".
O documento aponta a
pandemia de covid-19 como um dos principais motivos do retrocesso mundial, além
de várias crises - políticas, econômicas e ambientais - que não deram tempo de
recuperação para várias populações.
"Nós já tivemos
desastres antes. Já tivemos conflitos antes. Mas a confluência do que estamos
enfrentando agora é um grande revés para o desenvolvimento humano", disse
Steiner.
O retrocesso é global,
afetando mais de 90% dos países do mundo, segundo o estudo.
Suíça, Noruega e Islândia
permanecem no topo da lista de Desenvolvimento Humano, enquanto Sudão do Sul,
Chade e Níger aparecem nos últimos lugares.
E enquanto alguns países
começaram a recuperação da pandemia, muitas nações na América Latina, África
subsaariana, sul da Ásia e Caribe ainda não haviam se recuperado quando surgiu
uma nova crise: a guerra na Ucrânia.
- "Sem
precedentes" -
Embora as consequências da
invasão russa da Ucrânia para os alimentos e a segurança energética não tenham
sido calculadas até o momento no índice deste ano, "sem nenhuma dúvida as
perspectivas para 2022 são sombrias", disse Steiner.
Um fator que contribui
consideravelmente para a recente queda do Índice de Desenvolvimento Humano é a
redução global da expectativa de vida, que passou de 73 anos em 2019 para 71,4
anos em 2021.
O principal autor do
relatório, Pedro Conceição, descreveu a redução como "um choque sem
precedentes", recordando que alguns países, incluindo os Estados Unidos,
registraram quedas de dois anos ou mais.
O relatório também descreve
como as forças de transformação, como as mudanças climáticas, a globalização e
a polarização política, apresentam um nível complexo de incerteza "nunca
visto na história da humanidade", o que provoca sentimentos crescentes de
insegurança.
"As pessoas perderam a
confiança umas nas outras", disse Steiner.
"Sem contar com as
instituições, nosso vizinho agora se torna às vezes a maior ameaça, seja
falando literalmente da comunidade ou globalmente pelas nações. Isto é algo que
está nos paralisando".
"Não podemos continuar
com a cartilha do século passado", argumentou Steiner, que prefere deixar
o foco para a transformação econômica, em vez da confiança no crescimento como
uma panaceia.
"Falando francamente,
as transformações que precisamos agora exigem que adotemos as métricas do
futuro: baixas emissões de carbono, menos desigualdade, maior
sustentabilidade".
O relatório apresenta uma
nota positiva ao afirmar que os avanços podem ser conquistados com o foco em
três áreas principais: investimentos em energia renovável e preparação para
futuras pandemias, seguros para absorver os impactos e inovações para
fortalecer a capacidade para lidar com futuras crise.
Steiner também pediu uma
reversão na recente tendência de queda na ajuda ao desenvolvimento dos países
mais vulneráveis.
Continuar por este caminho
seria um "erro grave", afirmou o diretor do PNUD, e "subestima o
impacto que isso tem em nossa capacidade de trabalhar juntos como nações".
AFP, Amélie Bottollier-Depois
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