Centenas de pessoas foram presas |
Centenas de pessoas foram presas pelas autoridades na Rússia nos protestos contra a nova "mobilização parcial" de reservistas para a guerra na Ucrânia, segundo um grupo independente de direitos humanos.
A ong OVD-Info disse que 724
pessoas foram detidas em 32 cidades diferentes neste sábado (24). Cerca de mil
pessoas já haviam sido presas no início da semana.
Manifestações tomaram o país
desde que o presidente Vladimir Putin anunciou planos de convocação de 300 mil
homens da reserva. Manifestações "não autorizadas" são proibidas pela
lei russa, mas isso não impediu os protestos, que tomaram larga escala em áreas
urbanas.
Em Moscou, a agência de
notícias AFP relatou ter testemunhado uma manifestante sendo presa por
policiais e gritando "não somos bucha de canhão" (termo usado para
tropas que são tratadas como sacrificáveis em um conflito).
E em São Petersburgo, uma
das principais cidades do país, um homem disse a repórteres: "não quero ir
à guerra por Putin".
Natalya Dubova, de 70 anos,
disse à AFP que se opunha à guerra e confessou que estava "com medo pelos
jovens" que devem receber ordens de ir para o front.
Punições severas
Algumas das pessoas presas
no sábado relataram terem recebido documentos de convocação e ordenados a se
apresentarem em centros de recrutamento enquanto estavam sob a guarda de forças
de segurança. O Kremlin defendeu a prática no início desta semana, dizendo que
ela "não é contra a lei".
Moscou também aprovou novas
punições severas para os acusados de
abandono do dever após a
convocação, impondo punições de até 10 anos de prisão para qualquer soldado pego se
rendendo, tentando desertar ou se recusando a lutar.
O presidente também assinou
ordens que concedem cidadania russa a qualquer cidadão estrangeiro que se
inscreva para servir um ano nas forças armadas do país.
O decreto mostra o quão
grave se tornou a escassez de tropas em Moscou, dizem observadores, e ignora a
exigência usual de cinco anos de residência no país para concessão de
cidadania.
Em outras cidades, jovens
russos continuam deixando o país para evitar a convocação.
Na fronteira com a Geórgia,
as filas de carros russos se estendem por mais de 30 quilômetros e o Ministério
do Interior pediu às pessoas que não viajem.
Autoridades russas locais
admitiram que houve um fluxo significativo de carros tentando atravessar - com
quase 2.500 veículos esperando em um posto de controle.
A admissão é uma mudança de
tom da Rússia, que na quinta tinha descrito relatos de russos fugindo do
recrutamento como "falsos".
Enquanto isso, a Finlândia
teve um aumento acentuado no número de russos que tentam entrar no país. Matti
Pitkaniitty, porta-voz da guarda de fronteira do país, disse que o número de
russos chegando mais que dobrou desde a semana passada. Na sexta-feira, o
governo anunciou planos para impedir a entrada de turistas russos.
"O objetivo é reduzir
significativamente o número de pessoas que vêm da Rússia para a
Finlândia", disse o presidente Sauli Niinistö à emissora estatal.
Vários outros países
vizinhos já descartaram oferecer asilo a russos que desejam evitar o
alistamento.
"Muitos russos que
agora fogem da Rússia por causa da mobilização estavam de acordo com a morte de
ucranianos", disse o ministro das Relações Exteriores da Letônia, Edgars
Rinkēvičs. "Eles não protestaram antes. Não é certo considerá-los como
objetores de consciência agora."
Na sexta-feira, o Kremlin
revelou uma série de profissões que garantem isenção do recrutamento.
Trabalhadores de TI,
banqueiros e jornalistas que trabalham para a mídia estatal escaparão da
"mobilização parcial" anunciada por Putin.
No entanto, houve
questionamento da veracidade das alegações do Kremlin, com relatos de
convocação de homens que não atendem aos critérios de recrutamento.
Margarita Simonyan, editora
do jornal estatal RT, postou no Twitter uma lista de cidadãos idosos e
deficientes que foram obrigados a se apresentar ao serviço.
BBC News, Matt Murphy
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