Viagem à Rússia e a região no leste da Ucrânia ocupada por Moscou de legisladores da AfD gera críticas até de seus próprios correligionários. Políticos alegam querer ver a situação humanitária na área.
Políticos do partido de
ultradireita alemão que estão em visita à Rússia e planejam viajar para áreas
no leste da Ucrânia ocupadas pelos russos foram acusados de apoiar a guerra de
Vladimir Putin.
Os cinco políticos do
Alternativa para a Alemanha (AfD) disseram que seu objetivo é "ver por nós
mesmos a situação humanitária in loco”, mas foram solicitados a fornecer
detalhes sobre a visita à liderança do partido, que aparentemente não sabia
nada sobre a visita.
O vice-líder da AfD, Peter
Boehringer, disse que a viagem não estava ocorrendo em nome do partido.
"Nós não apoiamos esta viagem", disse o colíder da AfD Tino Chrupalla
nesta terça-feira (20/09) em Berlim. Ele sublinhou que nem ele nem a colíder
Alice Weidel sabiam da viagem. Weidel falou em uma "viagem privada"
que não foi acordada com o partido. "A viagem também não representa a
posição da AfD”, frisou.
Três políticos da delegação são
membros de assembleias legislativas estaduais, dois da Saxônia-Anhalt e um da
Renânia do Norte-Vestfália.
Em um comunicado publicado em
suas contas no Facebook e no Telegram, Christian Blex, da AfD na Renânia do
Norte-Vestfália, um dos membros da delegação, postou um broche mostrando uma bandeira
alemã e uma russa entrelaçadas.
Hans-Thomas Tillschneider,
co-chefe da AfD de Saxônia-Anhalt, e Daniel Wald, também membro da assembleia
legislativa do mesmo estado, divulgaram um comunicado enfatizando que fazem a
viagem porque querem "ver por seus próprios olhos". Eles acusaram a
"mídia pró-governo alemão” de ter uma cobertura "altamente
unilateral” e incompleta" sobre a situação humanitária das pessoas na
região de Donbass.
"Pérfido"
O jornal berlinense TAZ chamou
de "especialmente pérfido" – à luz dos recentes relatos de valas
comuns descobertas perto de Izium, cidade retomada pelos ucranianos – que os
políticos tenham classificado sua visita a área ocupada pelas forças russas
como viagem de investigação humanitária.
O Robert Lansing Institute,
baseado nos EUA, que se descreve como uma organização de pesquisa de políticas
públicas apartidária e sem fins lucrativos, afirmou que a viagem está ocorrendo
sob os auspícios do serviço secreto militar russo, cujos membros estariam
acompanhando os políticos alemães ao Donbass. O instituto foi o primeiro a
divulgar a informação.
O embaixador ucraniano na
Alemanha, Andriy Melnyk, acusou os políticos da AfD, em mensagem no Twitter, de
"apoiar a guerra de aniquilação" com a planejada visita a áreas
ocupadas pelos russos no leste da Ucrânia.
"Traição à pátria"
O chefe da bancada parlamentar
do Partido Liberal Democrático (FDP) em Renânia do Norte-Vestfália, Henning
Höne, se disse chocado. "Para mim, tal ação equivale a traição à
pátria", afirmou, ressaltando que uma viagem às áreas ocupadas pelos
russos do leste ucraniano "não é possível sem contatos com o serviço
secreto russo”
"Tudo isso mostra de que
lado a AfD está – no de Putin", disse a integrante da bancada do Partido
Social-Democrata (SPD) no Parlamento alemão Katja Mast. "Tais viagens são
feitas por Exploraram a máquina de propaganda de Putin e prejudicaram a
reputação e os interesses da Alemanha massivamente. Danificar a Alemanha é isso
Objetivo da AfD. Isso foi, é e continuará sendo assim."
Histórico de apoio ao Kremlin
A AfD tem um histórico de apoio
a Putin e, como numerosas siglas europeias de ultradireita, alguns de seus
principais políticos mantêm laços com Moscou.
A oposição de Putin a
organizações ocidentais como a Otan e a União Europeia se encaixa bem com a
forte base eleitoral da AfD no Leste da Alemanha, que é cética quanto à
filiação à UE e cujos laços históricos incluem resquícios de empatia cultural
com a Rússia.
Entretanto, os líderes
partidários nacionais da legenda aderiram desde o início à condenação da
invasão russa, enquanto algumas figuras regionais influentes têm se mostrado
ambivalentes quanto ao assunto.
DW
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