O Vale do Anhangabaú, na região central de São Paulo,
amanheceu mais movimentado do que de costume na segunda-feira, 16.
Uma multidão
se reunia desde cedo nas imediações do Sindicato dos Comerciários de São Paulo
em busca de uma das 1.800 vagas formais oferecidas em um mutirão realizado pela
entidade em parceria com empresas.
O volume de
interessados pegou a organização de surpresa. Segundo o sindicato, os primeiros
candidatos chegaram já no fim da noite de domingo (15).
Letícia dos
Santos Silva, 33, e o marido, Welligton, 35, entraram na fila às 5 horas.
Eles estão
desempregados há cerca de dois meses e têm quatro filhos.
"Estamos
aqui porque temos aluguel para pagar", disse Letícia. Ela mirava vagas de
operadora de caixa, e ele, de estoquista.
Foram
distribuídas 5.000 senhas para os candidatos, mas, diante da fila que se
formava em caracol por todo o vale, o sindicato decidiu limitar o atendimento
do dia a 1.600 pessoas.
O restante
será atendido em grupos de 800 ao longo da semana.
A mudança na
dinâmica do processo deixou os candidatos perdidos e retrata o desespero
daqueles que procuram por emprego. Uma funcionária do sindicato relatou casos
de pessoas vendendo senhas.
Muitos se
aglomeravam na porta da entidade para tirar dúvidas e reclamavam que, com a
comunicação confusa, haviam saído da fila por engano.
Insistiam para
garantir que seriam atendidos, gritavam se alguém ameaçava furar a ordem de
chegada e se abraçavam quando o colega que conheceram ali, na fila, também
conseguia pegar uma senha.
Outros que não
chegaram a tempo de se inscrever entregavam seus currículos a funcionários na
porta do sindicato ao longo de toda a tarde.
Dentro do
prédio, candidatos iam de um andar ao outro, participando em sequência de
vários processos seletivos.
Segundo
Ricardo Patah, presidente do sindicato e da UGT (União Geral dos
Trabalhadores), a maioria das vagas disponíveis tem salário médio de R$ 1.300.
Há postos como
de operador de caixa e vendedor em grandes redes de farmácias, materiais de
construção e supermercados, entre outros.
Na fila do
desemprego, não há regras para formação, idade ou origem.
Vivian Donato,
42, é professora e está desempregada há três anos. Enquanto espera a abertura
de concurso para a rede pública, ela se candidatou para vagas no mutirão.
"Fui me
virando, vendendo artesanato, trabalhando em feiras e eventos", disse.
Ana Carolina
Toneo, 30, é graduada em marketing e está sem emprego com carteira assinada há
dois anos.
"Só fiz
bicos, estou aceitando a vaga que vier. É muita gente desempregada",
afirmou Toneo.
Ícaro de
Oliveira, 18, chegou às 6 horas à fila em busca do primeiro emprego. "Já
está na hora de procurar."
Já o viúvo
Arnaldo José Correra, 60, que trabalhou como taxista por 16 anos e está
desempregado desde novembro, conta que faltam apenas dois anos para se
aposentar.
Os haitianos
Louis Pierre, 38, Oska Bellevue, 41, e Jean Alix Joseph, 54, estão no Brasil há
cerca dois anos.
Tiveram
empregos diversos, como de pedreiro e ajudante de cozinha.
"Não
queremos problema, só queremos trabalhar", disse Bellevue, que fez curso
de auxiliar de produção no Senai.
Além de fazer
frente à situação do desemprego no país, a iniciativa do sindicato é uma
tentativa de atrair filiados, após a reforma trabalhista tornar o imposto
sindical facultativo.
"É uma
resposta pela valorização do movimento sindical e um caminho para
aperfeiçoarmos a relação com as empresas", disse Patah.
Folhapress
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