Uma pesquisa feita pela Associação Paulista de
Medicina (APM) aponta que 96% dos usuários de planos de saúde relataram algum
tipo de problema na utilização do serviço nos últimos dois anos. O percentual é
maior do que o verificado na última pesquisa em 2012 (77%). As consultas
médicas e os exames foram os serviços mais usados e os que mais registraram
problemas. Nas consultas médicas, as dificuldades passaram de 64% para 76%. No
caso dos exames passaram de 40% para 72%. Foram entrevistadas 836 pessoas,
entre 25 de abril e 2 de maio deste ano.
Segundo os dados, entre os pacientes que tiveram
dificuldade nas consultas, o principal problema apontado é a demora na marcação
(60%), seguido da saída do médico do plano (37%) e da falta de médico para as
especialidades (23%). Com relação aos exames, 42% disseram que tiveram que
realizar em lugares diferentes, 39% reclamaram da demora para a marcação, 38%
apontaram para o fato de haver poucas opções de laboratórios e clínicas, 31%
disseram que houve demora para a autorização de algum procedimento e 22%
disseram que o plano não cobriu algum exame ou procedimento.
“Foi um crescimento muito grande quando se trata de
uma área tão crítica quanto o sistema de saúde principalmente considerando que
são pessoas que pagam pelo atendimento. É um número inaceitável”, avaliou o
diretor da associação, Florisval Meinão.
“Com relação às dificuldades, os números querem dizer
que as empresas trabalham com uma lógica comercial. Elas buscam trabalhar com
redes muito restritas para atendimento e essa rede é insuficiente para garantir
o atendimento. Daí essa demora na marcação de consultas e exames”, completou.
Com relação ao pronto atendimento, os usuários relatam
que o local de espera estava lotado (76%), que o atendimento demorou muito
(59%), que houve demora ou negativa para realização de exames ou procedimentos
(34%) ou demora e negativa na transferência para internação hospitalar (12%).
Sobre as internações, 37% afirmaram ter poucas opções
de hospitais, 26% tiveram dificuldade ou demora para o plano autorizar a
internação e 16% se depararam com falta de vaga para internação. Com relação às
cirurgias, 18% enfrentaram demora para a autorização, 9% não tiveram cobertura
para materiais especiais e 8% não tiveram autorização.
“A situação que me parece mais grave é a do pronto
atendimento. As pessoas não têm uma rede suficiente e têm sua situação
agravada. Eles procuram as unidades de atendimento de urgência. A demora e a
espera são muito grandes, as dificuldades para a realização de exame nesses
locais também é grande, o paciente precisa internar e não consegue internação.
Fica uma situação muito difícil para quem vive um problema agudo”, disse
Meinão.
Como consequência do atendimento deficitário dos
planos, a quantidade de usuários que foi obrigada a procurar o Sistema Único de
Saúde (SUS) passou de 15% há seis anos para 19% em 2018. Já aqueles que viram
como única opção o atendimento particular passaram de 9% para 19%.
Médicos
A APM também avaliou a opinião de 615 médicos - 90%
deles declararam haver interferência das empresas no exercício da medicina.
Seis em cada dez apontam restrições quanto à solicitação de exames para o
diagnóstico e alternativas de tratamento, além de apontarem entraves para a
prescrição de medicamentos de alto custo, tempo de internação e de
pós-operatório. As entrevistas foram feitas entre 12 de junho e 2 de julho.
A pesquisa mostrou que 60% trabalham no SUS e desses
apenas dois entre dez disseram conseguir internar um paciente com facilidade.
Pelo menos 85% afirmaram também enfrentar problemas para obter uma sala de
cirurgia, sendo que 91% apontam dificuldade excessiva. Nove em cada dez
profissionais dizem que o SUS não tem equipamentos adequados para exames e
diagnósticos.
Em decorrência dessas dificuldades, sete em cada dez
médicos disseram já ter sido agredidos durante o exercício da profissão. Pelo
menos 12% denunciaram que já foram vítimas de agressão física.
Planos
Em nota, a Associação Brasileira de Planos de Saúde
(Abramge) afirma que mantém a disposição para manter um diálogo aberto e pede
que as entidades e categorias profissionais busquem, em conjunto com as
operadoras e as autoridades, soluções para os desafios do setor.
Entre os desafios, a associação destaca “a escalada
incessante dos custos assistenciais, motivada principalmente pela mudança no
perfil demográfico, com o consequente aumento da assistência à população idosa,
e pela incorporação constante e indiscriminada de tecnologias, e aumento de
fraudes/desperdícios e a da indevida judicialização da saúde”.
A associação reforça que o descredenciamento de
médicos que pedem mais exames não é regra e critica o “excesso de solicitações
de exames”. “Prova disso é que o país é o campeão mundial de realização de
ressonância magnética, um triste exemplo de desperdício, pois, com toda a
certeza, muitos desses exames são completamente desnecessários”, destacou a
nota.
Agência Brasil
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