A reputação deve-se ao método
empregado pelos docentes, que se tornou um dos principais produtos de
exportação da cidade mais populosa da China - metade das escolas no Reino
Unido, por exemplo, devem adotar o "sistema de ensino de Xangai".
Estatísticas comprovam que alunos do
ensino fundamental que aprendem matemática usando a técnica têm rendimento
superior aos demais.
Os estudantes de Xangai, por exemplo,
estão três anos à frente dos de outros países em termos de escolaridade.
Mas qual é o segredo do sucesso da
cidade? A BBC compilou os princípios do método - bem como suas críticas.
Conceito
é tudo
O método de Xangai estrutura cada
aula em torno de um único conceito matemático - como aprender adições básicas,
resolver uma equação ou entender as frações como parte de um todo.
E tudo é coberto muito metodicamente,
de modo que a aula não avança até que cada estudante tenha entendido.
"Em
muitas partes do mundo, acredita-se que uma boa aula é aquela que cobre grande
parte da ementa do dia, ou seja, quanto mais se avança, melhor", diz Mark
Boylan, especialista em educação da Universidade Sheffield Hallam, do Reino
Unido, e colaboradora da publicação Schools Week.
"Em Xangai, o objetivo é assegurar
que um conceito seja totalmente aprendido e não seja ensinado de novo no futuro."
Especialistas em matemática
consideram o sistema muito rigoroso ou exigente, baseado em manuais feitos sob
medida que substituem folhetos ou planilhas.
Trata-se de uma metodologia altamente
conceitual, na medida em que professores baseiam suas aulas em métodos
fundamentais e leis da matemática, embora os alunos sejam encorajados a
representar fisicamente os conceitos usando objetos e imagens para ajudá-los a
visualizar ideias abstratas.
Além disso, a forma como os alunos
falam e escrevem sobre matemática, acreditam os especialistas, pode contribuir
para seu sucesso.
"Sempre lhes pedimos para
explicar a resposta em frases completas. Ou seja, não adianta escrever apenas a
resposta certa, mas entender o conceito. Essa é a chave para construir o
raciocínio lógico e a linguagem matemática", informa o programa de
desenvolvimento profissional Mathematics Mastery, baseado no método asiático.
Por outro lado, críticos dizem que o
sistema é muito abstrato e não aplica a matemática em cenários da vida real.
Alguns também argumentam que o método
ensina os alunos a se preparar para provas, ou seja, a ter um bom desempenho
nos exames internacionais, mas sem adaptar o conhecimento a situações do dia a
dia.
Unidos
venceremos
Há também um princípio de coesão por
trás do método de Xangai: a classe aprende como se fosse um só aluno, todos
avançando no mesmo ritmo - não prosseguindo se alguém ainda estiver com
dúvidas.
Os professores, por exemplo, não
dividem o grupo com base na capacidade individual, nem em tarefas com
dificuldade variada. Todo mundo é considerado um matemático nato e cabe aos
professores tirar o melhor dos alunos.
Os estudantes com melhor desempenho
são encorajados a aprofundar o conhecimento e ajudar o restante da classe, em vez
de se distanciarem dos colegas menos aptos.
Enquanto essa busca pela igualdade
dentro de sala é comemorada por muitos, críticos acreditam que o sistema
desestimula os estudantes mais avançados, que acabariam ficando entediados.
A disposição das carteiras, porém,
segue o modelo tradicional - o que, segundo críticos, não estimula a
colaboração entre os pares.
"Trata-se de uma disposição
rígida e pouco inspiradora", dizem.
Repetição,
repetição, repetição
A repetição de conceitos também é um
ingrediente fundamental da receita secreta de Xangai.
Crianças a partir de cinco anos são
submetidas a testes para praticar exercícios até dominar cada conceito por meio
da repetição.
Um aluno responde à pergunta de um
professor e os outros repetem a resposta em uníssono. Em seguida, outra
responde a uma outra pergunta e o restante repete. A sequência continua à
exaustão.
Nessa rotina militar, espera-se que
os estudantes aperfeiçoem o uso do vocabulário matemático - não apenas
exercícios de matemática - na medida que a aula avança.
Mas as aulas são também muito
interativas, destacam os especialistas.
Além disso, são curtas e harmoniosas:
consistem de 35 minutos de ensino focado, seguido de 15 minutos de brincadeiras
não estruturadas.
A
estrela: o professor
Mas é no número de horas em sala de
aula que se encontra o que é talvez o fator mais negligenciado da história de
sucesso de Xangai.
Uma avaliação do modelo de ensino,
publicado na semana passada pela Universidade Sheffield Hallam, mostrou que os
professores só têm duas aulas diárias de 40 minutos.
O resto do dia é dedicado ao
desenvolvimento profissional, incluindo feedback entre os colegas e observação
das aulas.
Mas o mais importante é que um
professor de matemática em Xangai passa até cinco anos na universidade
estudando especificamente como ensinar matemática a alunos do ensino
fundamental.
"Parte do sucesso do ensino de
matemática em países como China e Cingapura vem do respeito aos professores e
do tempo que eles têm para se planejar e preparar", diz o especialista em
educação britânico James Bowen.
No entanto, críticos argumentam que
há um descompasso entre o bem-estar dos professores e o dos estudantes.
Um estudo de 2014 sobre o bem-estar
da criança, realizado pelo Instituto para o Desenvolvimento Social na NYU
Xangai, revelou que enquanto a maioria das escolas está equipada com salas de
aula adequadas, bibliotecas e laboratórios de informática, não têm facilidades
como auditórios, ginásios ou salas de reuniões.
E cerca de 13% das crianças
apresentam saúde regular ou ruim.
Por Valeria Perasso, da BBC
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