Fazendas, confecções de roupas e até
lanchonetes são acusadas de manter trabalhadores em situação análoga à
escravidão, 130 anos após o fim oficial dessa prática no país.
Quando se fala em trabalho escravo, logo
somos remetidos a imagens de correntes, algemas e açoites. Assim foram
retratados porões de navios negreiros e senzalas que eram a realidade de muitos
africanos escravizados durante séculos no Brasil. Hoje em dia, trabalhadores
não podem mais ser propriedade do patrão, mas 130 anos após a abolição o
cenário de trabalho forçado ainda é parecido em algumas fazendas e carvoarias
nos rincões do país.
Neste ano, 166 empresas estão na 'lista suja' do trabalho escravo. Mais de 2.300 trabalhadores foram encontrados em situações análogas à de escravidão nos últimos dois anos.
Uma usina de açúcar e álcool no Paraná mantinha 125 trabalhadores em condições insalubres; uma fazenda ligada a uma seita religiosa em Minas explorava mais de 500 pessoas – todas trabalhando de graça, em troca de casa e comida. O caso da dominação religiosa chamou atenção de toda a equipe que flagrou a situação. O coordenador do combate ao trabalho escravo em Minas Gerais, Marcelo Campos lembra que a empresa é reincidente – mesmo autuada, continuou explorando trabalhadores. Auditor fiscal do trabalho há 25 anos, ele diz que a sensação é de que exploradores estão perdendo o pudor.
'Nesta semana nós entramos em uma carvoaria e identificamos 25 trabalhadores em condições análogas a de escravo. Está nos surpreendendo muito a forma como determinados empregadores estão se sentindo à vontade para suprimir direitos e submeter trabalhadores à condição análoga a de escravo.'
Na Zona Rural, o trabalho forçado e a servidão por dívida são as formas mais comuns. Mas, a escravidão moderna também coage trabalhadores na área urbana. Tem trabalho escravo na Zona Sul do Rio de Janeiro: uma pastelaria em Copacabana foi autuada por manter três funcionários em esquema de trabalho forçado. No Rock in Rio também tinha trabalho escravo na praça de alimentação – uma lanchonete na Cidade do Rock foi flagrada mantendo 17 trabalhadores em jornadas exaustivas em 2015. Na região central de São Paulo, uma oficina de costura no Brás explorava 15 trabalhadores estrangeiros. Campos diz que os casos mais comuns são os de jornadas exaustivas.
'Os trabalhador é levado a trabalhar 15, 16, 17 horas por dia e sem aquele intervalo de descanso de 11 horas entre um dia e outro. É obrigado a trabalhar fim de semana, obrigado a trabalhar no ferido.'
As novas discussões sobre exploração também apontam o ambiente tóxico de trabalho como uma forma de abuso. A advogada especialista em relações do trabalho, Michely Coutinho, lembra que isso inclui falta de saúde e de segurança além de situações de assédio.
'Quando você coloca em uma situação também de exploração, também de restrição, metas inatingíveis, também é uma situação de abuso. Além daquela de abuso relacionado com o gênero, a questão do assédio moral e sexual, que também é outra nuance.'
Uma nova questão começa a ser discutida como exploração do trabalhador no século XXI: colonização dos direitos políticos. Recentemente, uma grande empresa de telecomunicação foi autuada pela Justiça do Trabalho de Belo Horizonte por estar coagindo os funcionários a participar de manifestações populares.
Neste ano, 166 empresas estão na 'lista suja' do trabalho escravo. Mais de 2.300 trabalhadores foram encontrados em situações análogas à de escravidão nos últimos dois anos.
Uma usina de açúcar e álcool no Paraná mantinha 125 trabalhadores em condições insalubres; uma fazenda ligada a uma seita religiosa em Minas explorava mais de 500 pessoas – todas trabalhando de graça, em troca de casa e comida. O caso da dominação religiosa chamou atenção de toda a equipe que flagrou a situação. O coordenador do combate ao trabalho escravo em Minas Gerais, Marcelo Campos lembra que a empresa é reincidente – mesmo autuada, continuou explorando trabalhadores. Auditor fiscal do trabalho há 25 anos, ele diz que a sensação é de que exploradores estão perdendo o pudor.
'Nesta semana nós entramos em uma carvoaria e identificamos 25 trabalhadores em condições análogas a de escravo. Está nos surpreendendo muito a forma como determinados empregadores estão se sentindo à vontade para suprimir direitos e submeter trabalhadores à condição análoga a de escravo.'
Na Zona Rural, o trabalho forçado e a servidão por dívida são as formas mais comuns. Mas, a escravidão moderna também coage trabalhadores na área urbana. Tem trabalho escravo na Zona Sul do Rio de Janeiro: uma pastelaria em Copacabana foi autuada por manter três funcionários em esquema de trabalho forçado. No Rock in Rio também tinha trabalho escravo na praça de alimentação – uma lanchonete na Cidade do Rock foi flagrada mantendo 17 trabalhadores em jornadas exaustivas em 2015. Na região central de São Paulo, uma oficina de costura no Brás explorava 15 trabalhadores estrangeiros. Campos diz que os casos mais comuns são os de jornadas exaustivas.
'Os trabalhador é levado a trabalhar 15, 16, 17 horas por dia e sem aquele intervalo de descanso de 11 horas entre um dia e outro. É obrigado a trabalhar fim de semana, obrigado a trabalhar no ferido.'
As novas discussões sobre exploração também apontam o ambiente tóxico de trabalho como uma forma de abuso. A advogada especialista em relações do trabalho, Michely Coutinho, lembra que isso inclui falta de saúde e de segurança além de situações de assédio.
'Quando você coloca em uma situação também de exploração, também de restrição, metas inatingíveis, também é uma situação de abuso. Além daquela de abuso relacionado com o gênero, a questão do assédio moral e sexual, que também é outra nuance.'
Uma nova questão começa a ser discutida como exploração do trabalhador no século XXI: colonização dos direitos políticos. Recentemente, uma grande empresa de telecomunicação foi autuada pela Justiça do Trabalho de Belo Horizonte por estar coagindo os funcionários a participar de manifestações populares.
Por Carolina Martins, no G1
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