Formato de trabalho remoto traz conforto e
possibilidade de viajar em baixa temporada; Relatório Global de Tendências
Migratórias da Fragomen prevê 1 bilhão de nômades até 2035
A pandemia e a necessidade
do isolamento social motivaram verdadeiras revoluções nas relações e nos
formatos de trabalho. Entre as intensas mudanças está a popularização do home
office, que foi aderido por diversas empresas e continuou em vigor em várias
outras, mesmo após o fim da quarentena. Esse modelo gerou um processo de
globalização ainda mais forte do trabalho, já que agora é mais fácil trabalhar
para uma companhia de outro país. É justamente por isso que o mundo tem
testemunhado o crescimento dos nômades digitais, pessoas que deixam seus países
de origem e vivem sem base fixa, mas com a ajuda do popular trabalho remoto.
Atualmente, a população que
vive dessa forma ao redor do globo já chega à casa dos 35 milhões. Entretanto,
segundo o Relatório Global de Tendências Migratórias de 2022, da Fragomen, uma
empresa especializada em migração, o número deve aumentar para 1 bilhão até
2035. Segundo o professor Ildeberto Rodello da Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP, a resposta
está no perfil social das novas gerações. “Hoje, temos um perfil menos apegado
à família, o que pode influenciar. De maneira geral, é uma oportunidade
interessante, principalmente para os mais jovens”, avalia.
Esse é o quadro em que se
encaixa Felipe Fogaça. Aos 27 anos, ele vive em Ribeirão Preto, mas trabalha
para uma escola de inglês em Melbourne, na Austrália, do outro lado do planeta,
e faz a maior parte dos serviços em casa. “Caso tenha algum compromisso médico
ou familiar, tenho a flexibilidade de me deslocar”, explica. Os planos de
Fogaça, inclusive, passam por uma mudança definitiva para o Canadá. Tudo isso
sem abandonar o atual emprego.
A vida na estrada
Diferentemente de Fogaça,
contudo, muitas outras pessoas investem, justamente, na vida sem uma base fixa
e visitam novas cidades a todo o tempo. De acordo com o professor Rodello, essa
filosofia de vida em constante movimento também deve alterar a realidade
econômica de várias comunidades pelo mundo. Embora seja cauteloso sobre a
previsão da Fragomen, o especialista enxerga que o nomadismo digital “traz
benefícios tanto para as pessoas que podem aproveitar a baixa temporada de
diárias de turismo para conhecer uma região quanto para hotéis e empresas que
praticam o turismo e, em baixa temporada, podem receber esses nômades
digitais”.
O próprio Brasil, inclusive,
aderiu ao movimento e oferece a emissão de vistos especiais de até um ano para
nômades digitais. Os países que mais buscaram essa permissão no último ano
foram os Estados Unidos e a Inglaterra. Todavia, nem tudo é festa, e o
equilíbrio é necessário. “Responsabilidade. Acho que uma palavra interessante
de ser colocada nesse contexto é que o nômade digital precisa ter muita
responsabilidade dentro daquilo que tem acordado para com a pessoa ou a empresa
que solicitou o serviço”, pondera Rodello.
Fogaça, no entanto, não
parece ter problemas com a vida longe dos escritórios e já se mostra
completamente adaptado, apesar das diferenças no fuso-horário que às vezes o
obrigam a acordar de madrugada para participar de reuniões. “Gosto muito de
trabalhar da minha casa também, no meu computador, organizando meu próprio
espaço sem ter de me preparar muito antes para o deslocamento do trabalho. Em
cidades grandes, as pessoas têm uma ou até duas horas de deslocamento para o
trabalho. Estou ao lado do meu escritório, então acaba sendo muito mais fácil”,
exalta.
Além disso, para ele, o
futuro já chegou, e sua visão do que será o mercado de trabalho nos próximos
anos é bem clara. Fogaça acredita que trabalhar a distância “já é uma
tendência, embora existam cargos que são impossíveis de serem feitos de forma
remota. Mas as empresas que podem fazer isso e não adaptarem o estilo de
trabalho, pelo menos para o híbrido, vão perder muitos talentos”.
Jornal da USP
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