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A China quer adquirir 35% de um dos três terminais de contentores do Porto de Hamburgo © Gregor Fischer/Getty Images |
Pequim propôs a
Berlim em 2021 comprar 35% de um dos três terminais de contentores do porto de
Hamburgo, do qual já é o maior utilizador em volume. O chanceler Olaf Scholz vê
o negócio com bons olhos, porém seis ministérios alemães federais fazem reservas.
“Relação econômica normal” ou tentativa de “controlar toda a cadeia de
abastecimento da Europa” por parte da China?
O chanceler alemão, Olaf
Scholz, teve a resistência de seis ministérios do Governo federal ao
investimento que a companhia estatal chinesa Cosco pretende fazer numa parte de
um dos três terminais de contentores do porto de Hamburgo. Segundo a imprensa
alemã, as pastas da Economia, Interior, Defesa, Transportes, Finanças e
Negócios Estrangeiros deram parecer desfavorável ao negócio.
Em causa está, para os
titulares daqueles ministérios, a alteração de situação geopolítica. A Comissão
Europeia é também citada como fazendo pressão para que a venda não seja
concretizada.
A proposta da Cosco para
adquirir 35% de um dos três terminais de contentores do porto de Hamburgo, do
qual já é o principal utilizador, data de 2021. A resposta do Executivo alemão
está a ser avaliada como “uma bitola” que exemplifique de forma clara o quanto
pretende “endurecer a sua posição perante a China, dadas as preocupações de que
venha a ser excessivamente dependente” de um “país autoritário cada vez mais
assertivo”, como descreve a agência Reuters.
A resistência do Executivo
alemão manifesta-se apesar de as autoridades de Pequim terem pedido a Berlim
que não politizasse a oferta e de a autoridade do porto de Hamburgo ter
alertado para os danos que a economia alemã poderá sofrer se não houver
negócio. Tal prejudicaria ainda, alegam, a atração de investimento futuro de
outras partes do mundo.
O processo que opõe a
chancelaria ao Executivo está em curso. Foi essa a razão dada pelo Ministério
da Economia para se abster de comentários à comunicação social, segundo a
NDR/WDR (canais estatais do Norte e Oeste da Alemanha).
Um porta-voz do Governo
declarou que a chancelaria também não comentava os procedimentos de análise do
investimento “com vista ao impacto que poderiam ter nos segredos de negócio das
empresas envolvidas”, cita o canal N-TV. As decisões serão tomadas pelos
secretários de Estado.
Hipercautela para manter
independência da China
O Governo alemão é visto
como hipercauteloso quando a manter o país independente da China. Ao magazine
“Panorama” do canal estatal ARD, Rolf Langhammer, do Instituto de Kiel para a
Economia Mundial, explicou que a “estratégia de longo prazo dos chineses
poderia bem ser ficar com o controlo de toda a cadeia de abastecimento da
Europa, tanto digital como marítima”.
Para Langhammer, a compra
parcial do porto de Hamburgo, o maior da Alemanha, poderia dar uma vantagem
competitiva à China ou iniciar um “abuso de poder económico”. Em detalhe, a
companhia marítima chinesa pretende adquirir parcelas do operador do porto HHLA
e vir a deter mais de um terço do terminal de contentores de Tollerort. Por
serem infraestruturas sensíveis, o Ministério da Economia conduz um processo de
análise do investimento.
No passado dia 13, o
ministro da tutela, Robert Habeck (Verdes), declarou estar a trabalhar numa
nova política comercial com a China que permita “reduzir a dependência de
matérias-primas, baterias e semicondutores”. O governante promete que “não
haverá mais ingenuidade” nos acordos comerciais com Pequim, reportava a
Reuters.
Fontes ministeriais
declararam à agência noticiosa que Habeck pretendia tomar medidas que tornassem
menos atrativos os negócios com a China. Foi a primeira vez que o ministro e
vice-chanceler admitiu que uma linha mais dura estava a ser traduzida em medidas
políticas.
Entretanto, a NDR/WDR
reporta rumores de que a embaixada a China em Berlim terá feito contactos
diretos com empresários, estimulando-os a pressionarem no sentido de uma
decisão favorável do Governo para que os negócios funcionassem para todos.
Segundo a N-TV, quando a
NDR/WDR pediu confirmação à representação chinesa na Alemanha, a resposta foi
que não comentariam. A embaixada remete para uma declaração geral anteriormente
veiculada pela sua porta-voz. Diz a mesma que a China espera que a Alemanha
permaneça “fiel a princípios como o mercado aberto” em vez de “politizar as
relações económicas normais”.
Expresso, Cristina Peres
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