Representantes de
dezenas de países participantes da conferência mundial da Unesco sobre
políticas culturais, Mondiacult, deixaram o auditório onde o evento acontecia
nesta sexta-feira, durante a intervenção do representante da Rússia, em
protesto contra a invasão à Ucrânia.
O boicote ocorreu durante a
sessão final da reunião, depois que 48 países, liderados pela Lituânia,
emitiram uma declaração contra "a agressão injustificável e ilegal"
da Rússia à Ucrânia. "Não podemos continuar observando como um país pode
tentar apagar a cultura e identidade de outro", disse Simonas Kairys,
ministro da Cultura da Lituânia, em nome do grupo, que inclui Estados Unidos,
Reino Unido, os membros da União Europeia, Equador, Guatemala e Japão.
"Pedimos à Rússia que
se retire das fronteiras reconhecidas com a Ucrânia e exigimos o fim da agressão",
acrescentou Kairys, enquanto os delegados dos países signatários se levantavam.
Minutos depois, quando o chefe da delegação russa, Sergey Obryvalin, tomou a
palavra, vários participantes se levantaram e se retiraram.
"Essas declarações são
inaceitáveis, elas contrariam o equilíbrio no mundo, o equilíbrio que a Unesco
quer preservar", respondeu o representante russo. Após o discurso de
Obryvalin, os delegados que participaram do boicote retornaram a seus lugares,
segundo participantes do evento.
De acordo com o ministro
lituano, até 24 de setembro a Unesco havia verificado danos em 193 sítios
culturais ucranianos desde o começo da invasão russa, incluindo museus,
bibliotecas, centros culturais e prédios históricos. Ele destacou que, segundo
a imprensa, as forças russas saquearam museus e várias peças desapareceram.
No encerramento desta edição
da Mondiacult - a primeira desde 1998 - 150 países declararam por unanimidade,
e "pela primeira vez", que a cultura é um "bem público
mundial", e concordaram em criar "um roteiro comum para reforçar as
políticas públicas nesta matéria".
"Como tal, os Estados
pedem a integração da cultura como um objetivo específico por direito próprio
entre os próximos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações
Unidas", acrescentaram os organizadores, que se comprometeram a combater
mais intensamente o tráfico ilegal de bens culturais e anunciaram a criação
pela Unesco e Interpol de um museu virtual de bens culturais roubados.
Os organizadores também
concordaram com a criação, a partir de 2025, de um fórum mundial sobre
políticas culturais, que será organizado a cada quatro anos pela Unesco.
AFP
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