Posto de vacinação israelense: mais de 80% dos habitantes do país com mais de 60 anos já foram imunizados |
País lidera na aplicação de vacinas para a covid-19, tem mais doses do que precisa e se tornou enorme fonte de informações em situação real, fornecendo dados promissores sobre eficácia do imunizante da Pfizer-Biontech.
Enquanto as campanhas de vacinação progridem
lentamente em muitos países da União Europeia (UE) devido a gargalos de
fornecimento, Israel tem até mais doses do que necessita.
Israel ostenta a maior cota per capita de doses
inoculadas no mundo. Desde o início da campanha de vacinação, em 20 de
dezembro, 4 milhões de israelenses já receberam a primeira dose da vacina de
mRNA da parceria entre Biontech e Pfizer, o que correspondente a 43% da
população do país. Mais de 30% já receberam a segunda dose, sendo que mais de
80% das pessoas com mais de 60 anos já foram imunizadas.
Quem tiver mais de 16 anos e quiser tomar a vacina já
pode fazê-lo. No ritmo atual, Israel terá aplicado duas doses em metade da
população até o fim de março.
Mesmo com esse ritmo de vacinação, Israel ainda dispõe
de tantas doses da vacina da Biontech-Pfizer que o inoculante da Moderna nem
mesmo teve de ser empregado, embora seja permitido, desde 5 de janeiro.
A campanha de vacinação israelense mostra ser um claro
sucesso: o número de casos sintomáticos entre as pessoas que receberam as duas
doses caiu 93%, segundo dados de uma seguradora de saúde.
Vacina por dados valiosos
O fato de esse país com 9,3 milhões de habitantes ter
sido capaz de garantir grandes quantidades de vacinas está ligado aos termos
contratuais muito específicos que Israel negociou com as fabricantes. Ao
contrário da UE, Israel não manteve esses termos contratuais sob sigilo, mas
disponibilizou o acordo com a Pfizer, por exemplo, na internet.
Segundo o texto, Israel paga bem mais pelas doses da
vacina da Biontech-Pfizer do que a UE, em torno de 23 euros por dose, em
comparação com os 12 euros da UE.
Além disso, o Estado israelense assume a responsabilidade
pelo produto. Já para a União Europeia, é muito importante que os fabricantes
Biontech e Pfizer continuem sendo responsáveis pelo
produto.
O mais importante é que o governo israelense acertou
com as fabricantes da vacina que Israel forneceria semanalmente à elas os dados
da campanha de vacinação. Isso inclui não só os números de infecções e
vacinações, mas também as informações demográficas dos pacientes, como idade e
sexo. Segundo as autoridades israelenses, os dados são enviados de forma anônima.
Assim, as empresas farmacêuticas não apenas recebem
dados de maneira muito rápida e confiável, graças ao sistema de saúde
digitalizado em Israel, como também recebem muito mais dados do que obteriam de
qualquer estudo – uma fonte de informação de valor inestimável para as empresas
farmacêuticas.
Em troca, a fabricante da vacina se compromete a
fornecer doses a Israel até que seja alcançada a imunidade de 95% por cento da
população do país.
Dados encorajadores
É desses dados que saíram as informações mais
completas disponíveis sobre a eficácia da vacina da Pfizer-Biontech. Elas vêm
da Maccabi, uma das quatro organizações de seguros de saúde israelenses, que
assegura cerca de um quarto da população, e foram publicados pelo jornal Times
of Israel.
Os dados foram coletados uma semana após a aplicação
da segunda dose, ou seja, no momento em que a vacinação presumivelmente já
havia desenvolvido seu efeito protetor total.
Dos então 523 mil segurados que haviam sido vacinados,
apenas 544 foram infectados com Sars-CoV-2 após a segunda dose. Isso
corresponde a uma parcela de 0,1%. Desses 544 infectados, 15 tiveram de ser
hospitalizados: oito apresentaram apenas sintomas leves, três apresentaram
sintomas moderados e apenas quatro desenvolveram um quadro grave. Nenhum morreu
em consequência da infecção.
A seguradora comparou os dados coletados com 628 mil
membros não vacinados, dos quais 18.425 foram infectados no mesmo período. A
partir disso, a Maccabi calculou uma eficácia da vacina de 93%.
Esse percentual é encorajador não só porque
corresponde aos valores que a Biontech e a Pfizer haviam detectado nos seus
estudos. Ele mostra que a vacinação parece proteger contra um quadro grave e
pode minimizar as mortes em decorrência da infecção.
No entanto, os dados da Maccabi são representativos
apenas até certo ponto, já que ainda não foi publicado como o grupo examinado é
composto em termos de idade e doenças preexistentes. Os dados da Clalit, maior
seguradora de Israel, que também devem ser publicados em breve, podem fornecer
mais informações.
Além disso, também devem ser divulgados nas próximas
semanas dados sobre a eficácia da vacina entre a população mais jovem e entre
pessoas com doenças como diabetes ou câncer, assim como entre mulheres
grávidas.
Os números de Israel são encorajadores, mas ainda não
permitem tirar uma conclusão sobre a eficácia das vacinas contra as variantes
muito mais contagiosas do coronavírus. Em condições de laboratório, a vacina da
Biontech-Pfizer é eficaz contra a variante britânica B.1.1.7 e a mutação
sul-africana B.1.351. Mas essas são análises de laboratório; não há ainda
evidências em condições
reais.
Relaxamento no lockdown
Enquanto muitos países estão progredindo lentamente
com suas campanhas de vacinação, Israel suspendeu algumas das restrições que
estavam em vigor desde o fim de dezembro. Os cidadãos podem agora circular
livremente no país, as creches e as escolas voltaram a funcionar.
Entretanto, o número semanal de novas infecções ainda
é muito alto na comparação internacional: são mais de 400 por 100 mil
habitantes. Na Alemanha, essa taxa atualmente é de cerca de 60.
Em tese, o número de novas infecções em Israel pode
cair rapidamente se o resultado da pesquisa do Instituto de Tecnologia de
Israel (Technion), em Haifa, estiver correto. Segundo avaliação da entidade, a
carga viral cai já 18 dias após a administração da primeira dose da vacina.
Aqueles que foram vacinados se tornam menos contagiosos.
No entanto, há uma disposição significativamente menor
para se vacinar entre os israelenses mais jovens. Em Israel, pela primeira vez
em toda a pandemia, mais pessoas com menos de 60 anos de idade precisam ser
tratadas em hospitais do que na faixa etária acima dos 60 anos.
Isso acontece porque o vírus atualmente se dissemina
mais entre a população mais jovem. Pacientes mais jovens chegam a desenvolver
quadros tão severos que alguns têm de ser conectados a aparelhos. Por isso, o
governo já está debatendo sobre um sistema de benefícios para quem se vacina ou
mesmo possíveis penalidades para quem se recusa.
Na
Deutsche Welle
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