É difícil
definir “Programação Neurolinguística” (PNL). O sistema original de terapia e
autoajuda a adotar o nome foi criado, na década de 70, pelo linguista John
Grinder e pelo psicólogo Richard Blander, nos Estados Unidos. Eles propunham
que deveria ser possível reproduzir o sucesso de figuras eminentes a partir da
imitação do modo de falar, pensar e agir dessas pessoas. Indo um pouco mais fundo,
Grinder e Blander acreditavam ter descoberto uma espécie de “linguagem de
programação” mental: de acordo com eles, certos modos de comunicação
permitiriam ajustar a mente para a obtenção de resultados desejados, sejam eles
terapêuticos, econômicos, etc. Em outras palavras, a linguagem – oral,
corporal, etc. – “programa” o cérebro.
De lá
para cá, a ideia foi abraçada por vários grupos, na interface entre o
misticismo New Age e o ecossistema corporativo de consultorias e autoajuda,
assumindo formas que vão de seminários que ensinam a caminhar sobre brasas à pregação de
doutrinas não muito diferentes da Lei de Atração promovida pela turma de O Segredo. A
linguista Karen Stollznow se refere a essa face popular da PNL como “Amway da
mente”. “Esses cursos (...) garantem que, se você não mudar sua vida,
certamente mudará sua conta bancária”, escreve ela.
O
problema com a concepção original da PNL é que, embora pareça fazer sentido,
ainda que de um modo meio vago e superficial – “a linguagem programa o cérebro
humano” pode ser uma metáfora válida para o processo educacional ou uma enorme
bobagem, dependendo de como se interpreta a frase – ela não funciona. Simples
assim: seus princípios foram testados por cientistas e determinou-se que não
são válidos.
Como
escreve o neurocientista Steve Novella, “quando proposta inicialmente, não
havia nada de abertamente pseudocientífico sobre a PNL. Era um pouco simplista
e ingênua, mas talvez tivesse algum mérito. Mas acontece que os pressupostos da
PNL (...) estão errados. Os últimos trinta anos de pesquisa mostram que a PNL é
lixo”. Entre os pressupostos falsos, notam o psicólogo Barry Beyerstein e o
neurocientista Sergio Della Sala, está a ideia, já desacreditada, de que existe uma divisão de tarefas rígida entre oshemisférios cerebrais direito e esquerdo.
As
críticas à PNL vêm de longe. Nos anos 80, o Exército dos Estados Unidos
encomendou ao Conselho Nacional de Pesquisa uma avaliação das várias técnicas
de autoajuda que vinham sendo oferecidas no mercado para melhorar a performance
humana. Os militares queriam saber se valeria a pena investir parte de seu gordo
orçamento em alguma delas.
O
capítulo sobre PNL é bem claro: “muitas das teorias citadas em apoio à PNL são
metáforas”; “as referências biológicas e psicológicas são datadas (...) a
psicologia cognitiva citada omite os últimos 20 anos de pesquisas”. Conclusão:
“a evidência de uma base científica para a PNL ou de validação para sua
construção é geralmente fraca ou nula”.
Nada
disso impediu, no entanto, que a PNL frutificasse. Detetives de seriados de TV
usam osmovimentos dos olhos dos suspeitos para detectar mentiras, o que é um
truque associado à PNL (e que também não presta, como mostra este estudo do
periódico PLoS ONE). Ainda hoje, inúmeras técnicas de
autoajuda, motivação e vendas se inspiram em ideias e princípios nascidos na
neurolinguística. Treinamentos e consultorias derivados (abertamente ou não) da
PNL continuam a ser razoavelmente populares no mundo corporativo, mas isso é
assunto para um próximo artigo.