SÃO PAULO/BRASÍLIA, 4 Fev (Reuters) -
Diversas regiões do Brasil tiveram corte de fornecimento de energia na tarde
desta terça-feira por falhas no sistema de transmissão, deixando sem luz entre
5 milhões e 6 milhões de pessoas, em momento de baixa histórica dos
reservatórios de hidrelétricas e de alta demanda por parte dos consumidores de
energia.
O blecaute --o primeiro relevante no
Brasil em 2014, ano em que o país recebe a Copa do Mundo-- ocorreu um dia após
o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, ter afirmado que o governo não enxergava
"nenhum risco de desabastecimento de energia".
O secretário-executivo do Ministério
de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, classificou como de "médio
porte" a ocorrência nesta terça que atingiu cerca de 8 por cento da carga
no Sul e no Sudeste --regiões mais afetadas.
Zimmermann afirmou que não há perigo
de falta de energia do ponto de vista estrutural. "O sistema elétrico
brasileiro tem capacidade instalada de cerca de 127 mil megawatts (MW) e o
recorde da demanda de energia ontem (segunda-feira) foi de cerca de 84 mil
MW", disse Zimmermann, descartando a possibilidade de racionamento de
energia.
Segundo o Operador Nacional do
Sistema Elétrico (ONS), o apagão foi originado por curto-circuitos em linhas de
transmissão no Tocantins, uma da Intesa e outra da Taesa. Após a configuração
da perda dupla na transmissão entre Miracema e Colinas, foi determinado o
desligamento do circuito remanescente, da Eletronorte, resultando na separação
física dos sistemas de transmissão Norte e Nordeste do restante do sistema
elétrico nacional.
O presidente da Empresa de Pesquisa
Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, disse que o processo de desligamento
orquestrado evitou um apagão maior. "Quando acontece um fenômeno, um
acidente, para você evitar apagar toda uma região, você tem um sistema que
corta pequenas cargas em certos lugares e evita efeito dominó que apague toda
uma região."
A Eletropaulo, em São Paulo, a
Celesc, de Santa Catarina, e a Light, no Rio de Janeiro, e a paranaense Copel
foram algumas das distribuidoras que interromperam o fornecimento de energia
elétrica. A CEEE-D, que atua no Rio Grande do Sul, informou que também teve
áreas afetadas, mas não forneceu detalhes.
O diretor-geral do ONS, Hermes Chipp,
disse a jornalistas no Rio de Janeiro que de 5 milhões a 6 milhões de pessoas
foram atingidas pelo apagão.
Ele garantiu que as linhas de
transmissão que falharam não operavam com sobrecarga de energia --além de um
limite seguro de operação-- e que o blecaute não tem relação com a forte
demanda de energia que tem ocorrido diante de altas temperaturas.
"Todos os equipamentos estão
operando dentro dos padrões para os quais eles estavam planejados",
afirmou Chipp.
RESERVATÓRIOS
Os reservatórios de hidrelétricas no
Sudeste/Centro-Oeste, os mais importantes para o abastecimento de energia do
país, iniciaram a semana a 39,58 por cento de armazenamento, uma queda de cerca
de 1 ponto percentual desde a última quinta-feira.
Janeiro teve a pior ocorrência de
chuvas para o mês desde 1954, resultando numa queda incomum dos reservatórios
do país para esta época do ano, período úmido que normalmente abastece os rios.
"Temos uma quantidade de usinas
no país bastante grande e uma diversificação que permite que, mesmo tendo um
janeiro ruim, nós não tenhamos nenhum problema de abastecimento de energia
elétrica", disse Tolmasquim, da EPE.
Para garantir o abastecimento, o
governo tem lançado mão do acionamento das térmicas --cuja energia é mais cara.
Segundo Zimmermann, cerca de 15 mil MW dos 21 mil MW disponíveis em usinas
termelétricas estão acionados.
O secretário-executivo de Minas e
Energia e o presidente da EPE reiteraram que o governo não deixará que as
distribuidoras de energia tenham um impacto no seu caixa pelo custo das
térmicas além daquilo que podem suportar.
Na semana passada, o preço de energia
de curto prazo atingiu recorde histórico, acima de 800 reais o megawatt-hora
(MWh). As distribuidoras estão expostas a essa volatilidade por conta da não
adesão das hidrelétricas de Cesp, Copel e Cemig, ao processo de renovação
antecipada e condicionada de concessões do setor elétrico em 2012.
"Nenhuma distribuidora foi
responsável por ter causado isso. A descontratação está acima do que seria e a
causa foram as concessionárias (de geração) que preferiram esperar até 2015
(pelo fim das concessões). Essa questão está sendo bem avaliada pelo governo e
estudada no (Ministério da) Fazenda", disse Zimmermann.
No ano passado, a conta das
termelétricas foi paga pela Conta de Desenvolvimento Energético (CDE).