Cofundador do Google, Sergey Brin, com seu Google Glass |
No mundo dos negócios, como em tantos outros, tudo começa com uma ideia.
Essa ideia recebe
investimentos em tempo e dinheiro, até ficar pronta para ser lançada e
observada para ver se faz ou não sucesso.
Algumas dessas ideias
progridem muito, como o Facebook e a Amazon. Mas muitas outras fracassam, por
uma série de razões.
Os entusiastas da
tecnologia costumam citar frequentemente o caso do sistema de vídeo Betamax, da
Sony. Ele recebeu enormes elogios por sua qualidade superior à do sistema VHS,
mas acabou perdendo para o concorrente por falta de habilidade na sua campanha
de marketing.
Da mesma forma, outras
empresas de sucesso também foram responsáveis por alguns dos maiores fracassos
da história. Por quê?
1.
Google Glass
Indicado pela revista
Times como uma das melhores invenções de 2012, o Google Glass foi um projeto
que contou com o apoio apaixonado de Sergey Brin, um dos fundadores do
mecanismo de busca.
O que não era de se
estranhar. O Google Glass parecia ter saído de um filme de ficção científica —
óculos de alta tecnologia com uma tela de visualização frontal, que mostrava
informações que se deslocavam pela linha de visão do usuário, tudo ativado por
gestos ou comandos de voz.
Com eles, você poderia
encontrar seu caminho orientado por um mapa sobreposto à sua realidade; suas
mensagens apareceriam diante dos seus olhos; um único gesto seria suficiente
para você tirar fotos ou gravar vídeos; e um comando de voz faria você se
comunicar com quem desejasse.
O produto foi criado em
meio ao clamor permanente pela informática portátil. Mas, embora a utilidade e
a imagem do Google Glass fossem atraentes, as preocupações com privacidade
acabaram agindo contra ele, já que oferecia ao seu usuário a possibilidade de
filmar e fotografar outras pessoas sem ser observado.
A ideia de que alguém
pudesse ser gravado sem saber acabou sendo incômoda demais para as pessoas. E,
para os estabelecimentos comerciais, como restaurantes e salas de cinema, a
possibilidade de que seus clientes usassem óculos com câmeras também não foi
bem recebida.
Três anos depois do
lançamento, o Google Glass foi descartado.
O projeto foi ressuscitado
em 2017, com o Glass at Work, orientado não ao público em geral, mas para as
empresas. Eles eram úteis, por exemplo, para oferecer notificações em tempo
real no ambiente médico ou para ler QR code.
Mas as tentativas de fazer
reviver a ideia não foram suficientes para mantê-la por muito mais tempo. Em
março de 2023, o Google colocou ponto final aos seus óculos futuristas.
2.
Olestra
Descoberto por cientistas
da empresa norte-americana Procter & Gamble na década de 1960, Olestra era
um substituto da gordura que não era absorvido pelo corpo.
Olestra foi testado em
bolos, rosquinhas e sorvetes, reduzindo seu teor de calorias em até 50%.
Ele prometia ser a
panaceia para a dieta das pessoas, que poderiam desfrutar dos alimentos sem
sofrer as consequências negativas. E era uma ótima solução para a
multinacional, que ganharia muito dinheiro com a venda do produto.
Mas os comentários sobre os
testes com Olestra foram desastrosos e repugnantes.
“Todos tinham a mesma
reclamação”, explica o cientista de alimentos Peter Berry Ottaway, “vazamentos
anais que saem do reto sem nenhum controle”.
A Procter & Gamble
reformulou o produto, concentrando-se na produção de salgadinhos. E, em 1990,
pediu a aprovação da Administração de Alimentos e Drogas dos Estados Unidos
(FDA, na sigla em inglês).
A aprovação chegou seis
anos depois, mas os produtos que usavam Olestra precisariam declarar que podem
causar cólicas abdominais e fezes moles.
Inicialmente, os
consumidores não desaminaram. Paralelamente, começaram a surgir resultados
médicos melhores sobre os efeitos secundários do produto.
Mas surgiu uma campanha
feroz e contínua contra o uso de Olestra pelo Centro para a Ciência no
Interesse Público (CSPI, na sigla em inglês). E, como se não bastasse, o
produto se tornou alvo de piadas dos comediantes da televisão norte-americana.
Tudo isso levou ao fim do
Olestra.
"Realmente, foi uma
guerra de relações públicas", segundo o milionário empreendedor Sam White.
Ele declarou que, se fosse a Procter & Gamble, "teria continuado
lutando".
3.
Blockbuster
Há 20 anos, a Blockbuster
fazia parte da paisagem urbana ao redor do mundo
Lançado em 1985 em Dallas,
no Estado americano do Texas, o videoclube Blockbuster ("sucesso de
bilheteria", em inglês) fez jus ao seu nome por quase 30 anos.
No seu auge, em 2004, a
empresa gigante do aluguel de filmes chegou a ter 9 mil lojas em todo o mundo,
84 mil funcionários e receita de quase US$ 5,9 bilhões (cerca de R$ 29,5
bilhões).
Mas, naquela altura, a
empresa já havia cometido um erro grave: no ano 2000, deixou passar a
oportunidade de comprar a Netflix.
A plataforma de streaming
norte-americana havia sido fundada em 1997, oferecendo um serviço de aluguel de
DVDs pelo correio.
A Netflix ofereceu à
Blockbuster a possibilidade de acrescentar uma plataforma online à sua operação
de aluguel de fitas e DVDs. Em troca, a Blockbuster dedicaria um espaço à
Netflix nas suas lojas.
A Blockbuster recusou esta
e outras oportunidades, segundo a Netflix, que acabou se tornando sua principal
ameaça. Foi o momento decisivo para a sua queda.
"É muito fácil para
as pessoas intoxicar-se com o sucesso e começar a acreditar que nada irá se
interpor no seu caminho, o que não acontece, pela minha experiência",
observa White.
A Blockbuster havia se
interessado em oferecer seus próprios serviços de transmissão. Este enfoque
mudou depois de 2005, quando a gigante da comunicação Viacom vendeu a
companhia, deixando-a repleta de dívidas. E uma compra posterior por
"investidores ativistas" impediu a inovação da empresa.
Em 2010, a Blockbuster
declarou falência.
4.
Friends Reunited
Antes do Facebook, havia,
no Reino Unido, o Friends Reunited
Lançado pela engenheira da
computação Julie Pankhurst e seu marido Steve em julho de 2000, o site Friends
Reunited (“Amigos reunidos”, em inglês) ajudava as pessoas a encontrar seus
velhos amigos da escola.
Precursor das redes
sociais, o site teve crescimento inicial extremamente modesto. Mas, depois que
foi mencionado em um programa de rádio da BBC, o Friends Reunited ganhou força.
No final de 2002, já havia atraído 8 milhões de usuários.
A transição do acesso
gratuito para a assinatura paga foi inevitável, mas não reduziu o entusiasmo,
nem a má publicidade, alimentada por histórias de velhos amigos de escola tendo
casos e professores caluniados.
O Friends Reunited
conseguiu se manter até ser vendido para o canal de TV britânico ITV em 2005,
por 175 milhões de libras (cerca de R$ 1,08 bilhão). Mas a aquisição foi um
fracasso e, em 2009, a ITV se desfez do site por apenas 25 milhões de libras
(cerca de R$ 154,5 milhões).
O canal de televisão pagou
demais por uma peça central da sua estratégia digital, mas que era “um negócio
que, culturalmente, não estava no lugar certo”, segundo White. E, mesmo com o
seu drástico destino, o empresário acredita que o Friends Reunited “poderia ter
enfrentado os Facebooks da vida”.
5.
Sinclair C5
Lançado em 1985, o
Sinclair C5 prometia ser uma revolução no transporte individual
O triciclo elétrico C5
(com pedalagem assistida) foi um veículo individual lançado com grande alarde
no dia 10 de janeiro de 1985.
Ele foi anunciado como o
futuro do transporte — uma máquina não poluente, capaz de levar seu motorista
aonde precisar, substituindo os automóveis superdimensionados e pouco
eficientes.
Idealizado pelo célebre
inventor britânico Clive Sinclair (1940-2021), o Sinclair C5 prometia ser mais
uma de suas criações bem sucedidas, ao lado da primeira calculadora eletrônica
de bolso e do seu popular microcomputador doméstico ZX Spectrum.
Mas, junto com o DeLorean
(o carro que ganhou fama nos filmes da série De Volta para o Futuro), o C5
acabou sendo um dos fracassos de transporte mais espetaculares da década de
1980.
E, neste caso, o baque
veio logo no princípio. O veículo havia passado da mesa de desenho direto para
o protótipo, sem nenhuma pesquisa de mercado, e teve um problema de imagem
quase instantâneo.
A imprensa e o público não
observaram o Sinclair C5 como um novo modo de transporte, mas como um brinquedo
de alto custo. E ele recebeu críticas por questões de segurança, já que era
extremamente baixo, o que o tornava praticamente invisível para os outros
veículos.
Além disso, a aparente
vantagem de poder ser dirigido por qualquer pessoa com mais de 14 anos, sem
habilitação nem capacete, acabou se tornando motivo de preocupação.
Com a má recepção do
público, a quantidade de pedidos foi mínima e a produção foi encerrada depois
de cerca de oito meses. Mas, mesmo tendo sido ridicularizado de quase todos os
lados, o C5 ainda tem seus admiradores.
Com os avanços da
tecnologia de baterias e dos sistemas de controle eletrônico de segurança e
estabilidade, além da busca de alternativas aos automóveis com motor a
gasolina, especialistas se perguntam se o Sinclair C5 não teria sido lançado 30
anos antes do seu tempo.
BBC
News
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