Quando o assunto é educação, as avaliações e os indicadores tem enfatizado nossa indigência.
As pesquisas – sejam as efetuadas
pelo MEC, sejam as promovidas por organismos internacionais - registram a
mediocridade em que se encontra o sistema de ensino brasileiro, sobretudo, no
que se refere à qualidade.
Cerca da metade dos alunos
brasileiros situados na faixa etária dos 15 anos, estão no chamado nível 1 de
alfabetização, indicador estabelecido pela Unesco para classificar a
performance dos estudantes. Neste patamar estão aqueles que mal conseguem
efetuar leitura e interpretação de textos.
O Todos pela Educação¹ estima
que 34% dos alunos que chegam ao 5º ano de escolarização ainda não conseguem
ler. E mais: 20% dos jovens que concluem o ensino fundamental, e que moram nas
grandes cidades, não dominam o uso da leitura e da escrita.
A meta de alfabetizar todas as
crianças até os 8 anos de idade continua uma miragem, longe de ser alcançada.
Quanto ao IDEB - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica criado em 2007
para medir a qualidade do aprendizado nacional e estabelecer metas para a
melhoria do ensino - amargamos, numa escala de 0 a 10, uma pontuação de 4,6;
com o governo aspirando alcançar a média 6 somente no ano de 2022.
Em uma pesquisa de 2009, o IBOPE
identificou que o analfabetismo funcional de pessoas entre 15 e 64 anos é de
28%.
Não acabou. Em 2009, apenas 10%
dos estudantes no 9º ano do fundamental tinham aprendizado adequado em
matemática. A evolução desse quesito entre 2007 e 2009 foi de apenas um ponto
percentual, e cinco estados ficaram estagnados.
No questionário da Prova Brasil² de 2009, entre as
respostas dos professores, só 33% de quase 160 mil docentes afirmaram ter
conseguido desenvolver mais de 80% do conteúdo curricular na sala de aula. Na
sala de um em cada cinco professores, os alunos deixaram de ver pelo menos 40%
da matéria esperada durante o ano letivo.
Com um quadro tão desolador, o
resultado não poderia ser diferente: entre 65 países avaliados no quesito
educação (PISA), o Brasil ocupa a 53ª posição.
A situação é insustentável:
metade dos alunos brasileiros com bom aproveitamento acadêmico, que desde
sempre estiveram na escola, não dominam a língua pátria e são incapazes de
extrair dos textos seus significados. Passam quase dez anos na escola regular
sem quase nada aprender. É uma pantomina em que todos se enganam mutuamente: o
estado presta contas divulgando inaugurações de ‘novas’ e ‘mais modernas’
escolas, os pais contentam-se com um espaço onde possam encostar os filhos,
qualquer espaço - desde que distante da violência das ruas [como se isso fosse
possível] - e os alunos acomodam-se na ignorância, que não exige esforço, estudo,
trabalho... E o país amplia a distância que o separa do bloco desenvolvido.
Para construirmos uma nova
realidade para a educação, urge entendermos o caos em que nos encontramos. É o
primeiro passo, identificar com precisão nossos problemas para que tenhamos
condições de encará-los de frente, estabelecendo políticas, diretrizes e
estratégias que os conformem aos objetivos e metas necessários. Para criar um
país desenvolvido, em que as oportunidades e a justiça sejam patrimônio de
todos, será preciso muito mais.
As edificações destinadas ao
ensino carecem de reformas, adequações e principalmente, um novo conceito.
Estes espaços devem ser reconcebidos. As salas de aula convencionais não mais
respondem às necessidades contemporâneas. O espaço em que interagem professor e
aluno deve se ampliar para todo o espaço de convivência comunitária. As ruas,
praças e demais logradouros e equipamentos públicos devem ser extensões de
nossas salas de aula. Todo o ambiente que nos envolve deve ser utilizado como
salas de aula, laboratórios de pesquisas e oficinas de aprendizagem. A
realidade é que a escola sempre funcionou como uma instituição externa à
sociedade. Sobretudo neste momento em que a violência urbana as tem tangido
para o isolamento. Muralhas de concreto armado, cercas eletrificadas, sistemas
de monitoramento eletrônico, cães de guarda... vultosos investimentos que
deveriam se destinar à área pedagógica, são carreados para o setor de
segurança.
Mesmo nas searas onde se obtêm
êxitos e vitórias, como o programa social que incentivou a matrícula de 98% de
crianças entre 6 e 12 anos, envergonha a alma nacional saber que 731 mil
crianças ainda estão fora da escola (IBGE).
Apesar dos crescentes
investimentos, as conquistas acontecem numa velocidade muito aquém das
necessidades. Nos idos de 1940, a taxa
de analfabetismo se situava em torno de 65,1% da população com mais de 15 anos
de idade. No ano de 2000, esta taxa era de 13,6%. São indicadores vergonhosos, mas
sinalizam que é possível avançar quando há vontade política e determinação.
O congresso acaba de aprovar o PL
8035/10, o Plano Nacional de Educação, estipulando 20 metas para os próximos
dez anos, entre elas a aplicação de 10% do Produto Interno Bruto - PIB - em
educação: um mínimo de 7% do PIB no quinto ano de vigência da futura lei; e 10%
do PIB ao fim do período de dez anos. Ajudará? Na atual toada, não.
Imagine, caro leitor, a seguinte
situação: o tanque de combustível do automóvel furado e o sabe-tudo
discursando: “mais gasolina; coloquem mais gasolina; entreguem-me mais recursos;
com mais dinheiro para adquirir combustível, alcançaremos nosso destino”.
É o que vem ocorrendo no país. A
corrupção sangra a nação, numa hemorragia capaz de nos levar rapidamente a
óbito. Não estancando a sangria, não combatendo a corrupção, não trancafiando
os larápios na cadeia, esses 10% do PIB destinados à educação, acabarão nos
paraísos fiscais, untando de ouro e safira os nababos que – qual ratazanas –
corroem o tesouro público.
A palavra de ordem é qualificação
da gestão, não outra.Artigo de Antônio Carlos dos Santos.
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¹Todos pela Educação: Movimento da sociedade brasileira cuja missão é contribuir
para que até 2022 - ano do bicentenário da Independência - todas as crianças e
jovens tenham Educação Básica de qualidade
²Prova Brasil (Avaliação Nacional do Rendimento Escolar –
Anresc): trata-se de uma avaliação censitária envolvendo os alunos da 4ª
série/5ºano e 8ªsérie/9ºano do Ensino Fundamental das escolas públicas das
redes municipais, estaduais e federal, com o objetivo de avaliar a qualidade do
ensino ministrado nas escolas públicas. Participam desta avaliação as escolas
que possuem, no mínimo, 20 alunos matriculados nas séries/anos avaliados, sendo
os resultados disponibilizados por escola e por ente federativo.